Os protozoários são
organismos eucariontes, unicelulares, heterotróficos e podem ser de vida livre
ou fazer parte de colônias. Eles apresentam diversas fases em seu ciclo
biológico, desde trofozoítos, que são as formas ativas e que exercem a ação
patogênica, até os oocistos, que são a forma de resistência e a forma sexuada.
Por viverem em meio
aquoso, ou seja, são encontrados na água ou em algum líquido, o que torna sua
sobrevivência no organismo animal facilitada, já que o mesmo é composto em
aproximadamente 70% do seu volume de água, tendo sua instalação mais intensa no
trato digestório e sangue, podendo, em menor quantidade, se instalar no sistema
genital, linfático, coração e pele.
Devido a tantas formas de
doenças que podem acometer animais de diversas espécies é que se faz crucial o
controle com medicamentos antiparasitários, além de uma observação diária do
comportamento dos mesmos para diagnósticos e tratamentos mais específicos. É fundamental
conhecer o ciclo biológico destes protozoários para criar programas de combate
e controle do parasita.
COCCIDIOSE
As infecções pelas coccídias (Eimeria,
Isospora, Cystoisospora, Cryptosporidium) são infecções parasitárias causadas
por protozoários microscópicos que podem afetar diferentes espécies animais.
Cães e gatos são suscetíveis às espécies Isospora, Sarcocystis e Hammondia,
e somente os gatos são suscetíveis a Toxoplasma e Besnoitia. A
coccídia mais comum que afeta estes animais é a do gênero Isospora, sendo I. rivolta e I. felis em gatos, nos cães as espécies I. canis, I. burrowsi, I. neorivolta e I. ohioensis. Animais jovens submetidos a sistemas de confinamento
ou estresse podem sofrer infecções clínicas por Isospora sp., Cystoisospora
sp., Toxoplasma, Besnoitia, Sarcocystis e Hammondia. Coccídias afetam o
trato intestinal frequentemente. Exceto Cryptosporidium parvum, todas as
espécies são específicas do hospedeiro. As coccídias mais comuns pertencem ao
gênero Cystoisospora, as espécies C.
rivolta e C. felis em gatos, nos
cães as espécies C. canis, C. burrowsi,
C. neorivolta e C. ohioensis.
O filhote fica
exposto ao organismo a partir de fezes da mãe, podendo ingerir as fezes
contendo cistos que se desenvolvem no intestino do animal. Filhotes lactentes
podem eliminar oocistos por até cinco semanas, enquanto os filhotes desmamados
os eliminam durante duas semanas, devido a imaturidade do sistema imune. Os
cães adultos e gatos podem se infectar através da ingestão de solo contendo
cistos coccídias. Eles podem até comer fezes ou intestinos de outros animais
infectados, como roedores.
Tratamento
O tratamento
consiste em duas drogas que têm elevadas taxas de sucesso. Estas drogas incluem
sulfadimetoxina (via oral ou parenteral), na dosagem de 55 mg/kg/dia, em dose
única ou fracionada durante 21 dias. Trimetoprim / sulfadiazina também pode ser
utilizado. O amprólio pode ser empregado como preventivo em fêmeas adultas 10
dias antes do parto, na proporção de 30 ml da solução de amprólio a 9,6% em 3,8
litros de água de beber, porém seu
uso não foi aprovado em alguns países, como Estados Unidos e a União Europeia. Ele atua na regulação da absorção de tiamina pela
coccídia, enquanto o modo de ação destas drogas não mata a coccídia nos
intestinos, ele apenas ajuda na prevenção do parasita de se reproduzir.
Portanto, a velocidade a que o animal se recupera da infecção é muito lenta
(cerca de 2 semanas, se o tratamento for adequado), tempo esse que depende do
reestabelecimento do equilíbrio do sistema imune do organismo que é atingido
pelo parasita.
Em gatos afetados, a associação sulfatrimetoprim pode ser usada na dose
máxima de 60 mg/kg, por 1 semana. Para tratamento sintomático, pode-se utilizar
a sulfadimetoxina (via oral ou parenteral) na dose de 50 mg/kg no primeiro dia
de tratamento e 25 mg/kg, diariamente, por 2 ou 3 semanas.
Outros protocolos de tratamento podem
ser usados no combate de Sarcocystis,
Hammondia, Cystoisospora, Toxoplasma e
Neospora, como o uso de Clindamicina oral 12,5 a 18,5 mg/kg 2 vezes ao dia
por 4 semanas. Também pode ser usada uma associação de Sulfadianzina 30 mg/kg +
Pirimetamina 0,25-0,5 mg/kg/dia a cada 12 horas por 3 a 4 semanas.
TOXOPLASMOSE
O Toxoplasma gondii
é um coccídio que parasita o intestino delgado de membros da família
Felidae, inclusive o gato doméstico. Estes animais constituem os hospedeiros definitivos
deste parasito, portanto eliminam seus oocistos nas fezes e contaminam o meio
ambiente. Após um período de 1 a 5 dias, os oocistos esporulam, tornando-se
infectantes para um grande número de espécies de animais de sangue quente,
inclusive o próprio gato, o cão e o homem. Nestes animais, hospedeiros
intermediários, os esporozoítos liberados dos oocistos penetram nas células
intestinais e se multiplicam. Invadem também linfonodos, onde formam
taquizoítos que se espalham por todos os tecidos do hospedeiro, inclusive
cérebro, músculos estriados e fígado. Pode também ocorrer migração
transplacentária. O cão, apesar de não ser hospedeiro definitivo, contribui na
disseminação mecânica desta protozoose, e o gato, que é o hospedeiro definitivo, está
relacionados com a produção e eliminação dos oocistos, favorecendo a
perpetuação da doença, uma vez que somente nele ocorre a reprodução sexuada dos
parasitos.
Cerca de 60% dos
animais de estimação que têm toxoplasmose pode se recuperar com o tratamento. A
recuperação é menos provável em animais novos ou que possuem a supressão severa
do seu sistema imune.
Tratamento
Em uma revisão
das alternativas terapêuticas utilizadas para cães foi relatado o uso de
sulfadiazina, pirimetamina, clindamicina, fosfato de clindamicina, e cloreto de
clindamicina, lembrando-se que estas
drogas são utilizadas, em sua maioria, próximo às doses tóxicas para que sejam
efetivas, devendo ser utilizado tratamento de apoio, de acordo com os sinais
apresentados pelos animais.
Não existe um tratamento completamente satisfatório. A clindamicina é o
medicamento de escolha para cães e gatos, que é bem absorvida quando
administrada por via oral. Liga-se facilmente às proteínas plasmáticas,
distribuindo-se por vários tecidos, inclusive atravessa a barreira placentária,
porém não atinge o sistema nervoso central. Para cães com toxoplasmose sistêmica,
recomenda-se a dose 10-40 mg/kg via oral, dividida em 3 a 4 vezes/dia; para
gatos , recomenda-se 40 mg/kg via oral, divididos em 3 vezes/dia, durante 14
dias. Embora se tenha relatado a utilização de clindamicina, que tem sucesso
para o tratamento da miosite provocada pelo agente, a mesma não alcança
concentrações terapêuticas, no sistema nervoso central. A toxoplasmose ocular
felina deve ser tratada com clindamicina na dose de 12 mg/kg, duas vezes ao
dia, durante 4 semanas, ou sulfa-trimetoprim na dose de 15 mg/kg, duas vezes ao
dia, durante 4 semanas.
Em gatos, como terapia adjuvante contra
uveíte, pode ser administrado colírio de prednisona a 1%. Uma combinação da
droga pirimetamina com a sulfadiazina (Tribrissen) foi descrita como eficaz
contra taquizoítos, mas não contra bradizoítos, porém é bastante tóxica em
gatos.
Sulfonamidas, inibidores
do dihidrofosfato redutase e timodilato sintetase e antibióticos ionóforos
(lasolocida, narasina e salinomicina), macrolídeos, tetraciclinas e lisonaminas
tem ação sobre taquizoítos, e drogas como metronidazol, paramomicina e
roxarsona exercem pouca ou nenhuma atividade sobre estas formas evolutivas de
multiplicação rápida, sendo a associação de medicamentos mais eficiente. Sinergismo
pode ocorrer em sulfonamidas com pirimetamina, monesina ou toltrazuril e
sulfonamidas com ormetropina, diaveridina e trimetropin, cloridrato de
clindamicina e sulfa associada ao trimetropin.
Cloridrato de
clindamicina pode ser utilizado na dosagem de 3 a 20 mg / Kg, e também, na
posologia de 12,5 a 25 mg / Kg, por via oral, a cada 12 horas por uma a duas semanas
para encurtar o tempo de eliminação do oocisto. Os sinais clínicos da toxoplasmose
se resolvem dentro de dois a quatro dias com a administração deste medicamento.
Ácido folínico (0,5 a
5 mg /dia) pode ser empregado para prevenção das complicações hematológicas ocasionadas
pelo tratamento com pirimetamina. Fármacos contra Toxoplasma em combinação
com corticosteróides tópicos, orais ou parenterais, podem ser utilizados para
evitar danos oculares secundários à inflamação. A recorrência é comum se a duração
do tratamento for menor que quatro semanas e havendo imunodeficiência, o prognóstico
é ruim.
Medicamentos anticoccidianos:
Pirimetamina: é
um fármaco que atua na inibição da enzima dihidrofolato redutase (DHFR), a qual é importante na síntese do ácido fólico.
Clindamicina: é um fármaco da classe das lincosaminas que age
inibindo a síntese proteica. Atua como
um agente bacteriostático, penetra no meio intracelular. A clindamicina possui
atividade imunoestimuladora, pois potencializa a opsonização e acelera a
quimiotaxia e fagocitose dos leucócitos. É absorvida por via oral e parenteral.
Pode ser ingerida concomitantemente com os alimentos, sem prejuízo à sua
absorção. Distribui-se amplamente pelos tecidos. Não atravessa satisfatoriamente
a barreira hematoencefálica, porém atravessa a barreira placentária. Apresenta
elevada concentração no tecido ósseo e articular. Atravessa as membranas
celulares atingindo elevadas concentrações no meio intracelular. É metabolizada
no fígado e a eliminação dos seus metabólitos é pela urina, bile e fezes.
Amprólio (antagonista de tiamina): atua na regulação da absorção de
tiamina pela coccídia, enquanto a sulfaquinoxalina atuam na inibição das vias
metabólicas do ácido fólico e do ácido para-aminobenzoico (PABA). A
administração de 125 ppm proporciona uma boa eficácia contra um inóculo misto
de Eimeria acervulina, E. maxima, E. brunetti, E. tenella. A eficiência
do amprólio contra a E. acervulina e a E. tenella é comprovada
principalemnte quando associado à sulfaquinoxalina. A associação de 240 ppm de
amprólio e 180 ppm de sulfaquinoxalina é eficaz contra E. acervulina, E.
maxima, E necatrix, E. brunetti e E. tenella. As associações destas
substâncias são recomendadas, pois ocorre o sinergismo dos efeitos destes
medicamentos contra as eimerias. Relatos indicando a resistência de alguns
isolados de E. acervulina têm sido demonstrados, porém a resistência a este
composto ocorre lenta e parcialmente. O amprólio age nos esquizontes de 1ª e 2ª
geração.
Sulfonamidas: age contra esquizontes de 2ª geração, sendo menos efetiva
contra os estágios assexuados das eimerias. Têm como mecanismo de ação o
bloqueio das vias metabólicas do ácido fólico e do PABA. Dentro do grupo
destaca-se a sulfaquinoxalina como a mais potente e de menor toxicidade, apesar
de apresentar espectro de ação limitado a algumas espécies de eimerias.
Toltrazurila (triazinona simétrica): pertence à classe das triazinonas
simétricas, com propriedades coccidicidas de alta eficiência. Atua em
diferentes formas evolutivas do parasito, principalmente nos esquizontes, nos
macro e microgametócitos, alterando a função da cadeia respiratória e as
enzimas mitocondriais.
Trimetoprima: é um análogo do ácido fólico e como tal o substitui na enzima dihidrofolato reductase bacteriana que o sintetiza. É, portanto, um antagonista do ácido fólico, inibindo a sua formação pela bactéria. O ácido fólico é
essencial para a replicação das bactérias, já que é usado na duplicação do DNA. Este antibiótico não mata as bactérias, mas inibe a sua
multiplicação (é bacteriostática) permitindo ao sistema imune elimina-las facilmente. A trimetoprima é ativa contra a maioria dos
patógenos bacterianos comuns. Ela é, às vezes, usada em uma mistura com
sulfametoxazol, em uma combinação chamada de co-trimoxazol. Como as
sulfonamidas inibem a mesma via metabólica bacteriana, porém acima do local de
ação da dihidrofolato redutase, elas podem potencializar a ação da
trimetoprima.
REFERÊNCIAS
SPINOSA, H.S; GÓRNIAK, S.L; BERNARDI, M.M. Farmacologia Aplicada à
Medicina Veterinária. 5ª ed., Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 2011.
SARAIVA, K. D. B. et al. Toxoplasmose canina: aspectos clínicos e
patológicos. Ciências Agrárias, v. 29, n. 1, p. 189-202, 2008.
FONSECA, A. H. Coccidiose em animais domésticos.
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
GERMANI, C. F.; CAETANO, M. T.; PACHECO, F. A. A.
Toxoplasmose animal no Brasil. Acta Scientiae Veterinariae. 37(1): 1-23, 2009.
NEGRI, D.; CIRILO, M. B.; SALVARANI, R. S.; NEVES, M.
F. Toxoplasmose em cães e gatos. Revista científica eletrônica de medicina
veterinária. Ano VI, n. 11, 2008.
BABESIOSE
A
Babesiose é uma doença protozoariana, provocada pela Babesia canis, que parasita as hemácias e as destróis, resultando
em anemia hemolítica do tipo regenerativa. Sua transmissão se dá pelo carrapato
castanho (Rhipicephalus sanguineos, Dermacentor spp., Haemaphysalis leachi e Hyalomma
plumbeum) ou por transfusões sanguíneas. A Babesia canis é um hematozoário relativamente grande que parasita
as hemácias, apresentando-se sob formas arredondadas, irregulares e em pêra.
Formas arredondadas ou ameboides podem ser encontradas no plasma sanguíneo.
Figura 1 Formas intra-eritrocíticas de Babesia canis. Sangue periférico de cão.
Fonte: Gardiner
et al., 1998
Animais de áreas onde há estabilidade
enzoótica para essas parasitoses adquirem a infecção sem apresentar
sintomatologia clínica aguda. Por outro lado, aqueles de regiões indenes,
quando introduzidos numa área onde existe o hematozoário, sofrem a doença de
forma severa, que pode levar ao óbito.
O tratamento da babesiose canina está
direcionado para o controle do parasita, moderação da resposta imune e
tratamento sintomático. Alguns medicamentos usados com essa finalidade foram
atualmente substituídos por outros mais eficientes e com maior margem de
segurança. O azul tripan, por exemplo, era administrado na dosagem de 10 mg/kg
em solução a 1%, via intravenosa, mas tinha um alto risco, já que se ocorresse
extravasamento acidental da veia, causaria necrose tecidual.
Os
fármacos mais recomendados atualmente são o aceturaro de diminazeno (uma
diamidina) e o dipropionato do imidocarb (uma cabanilida), que serão descritos
a seguir:
Diminazeno
Diminazeno
é a droga comumente usada em todo mundo e é efetiva para o tratamento da B. canis quando administrada pela via
intramuscular, em dose única de 2,5 a 3,5 mg/kg. Porém, para o tratamento da B. gibsoni, a dose deve ser repetida
após 24 horas.
As
diamidinas interferem na glicólise e também na síntese do DNA do parasita,
ocasionando dilatação da membrana de organelas, dissolução do citoplasma e
destruição da membrana de organelas, dissolução do citoplasma e destruição do
núcleo. As diamidinas acumulam-se no fígado e rins, e entram na circulação
fetal; além disso, pequenas quantidades ficam acumuladas no sistema nervoso
central durante alguns meses.
Esse
medicamento é bem tolerado, mas em doses terapêuticas múltiplas em cães podem
causar lesões nervosas graves, principalmente ao nível do cerebelo, mesencéfalo
e tálamo, além de degeneração gordurosa no fígado, rins, miocárdio e
musculatura esquelética.
Dipropinato de imidocarb
O
dipropinato de imidocarb também é muito efetivo no tratamento da babesiose,
sendo recomendado na dosagem de 5 a 7 mg/kg, por via intramuscular ou
subcutânea sendo recomendada duas aplicações com um intervalo de quatorze dias.
A fenamidinina também é uma opção, na dose de 15 mg/kg/dia por via subcutânea,
em dois dias consecutivos.
Este
fármaco atua provocando alterações morfológicas e funcionais do núcleo e do
citoplasma do parasita. Este composto apresenta tendência de se depositar no
rim e é reabsorvido de forma inalterada, sendo metabolizado pelo fígado.
Cães
de áreas onde não há B. canis e que viajem para áreas endêmicas podem ser
tratados profilaticamente com uma injeção subcutânea de imidocarb na dose de 6
mg/kg, ficando protegidos por duas semanas, e de doxiciclina* na dose de 10
mg/kg, duas vezes ao dia por onze dias.
*A
doxiciclina pertence ao grupo das tetraciclinas e, apesar de ser um antibiótico
bacterisotático, por inibir a síntese proteica dos microorganismos sensíveis,
também possui ação antimicrobiana sobre alguns protozoários, como a Babesia
canis.
Efeitos Colaterais
Os efeitos colaterais que podem ser observados
com o tratamento com o cão imidocarb ou diamidinas são: depressão, vocalização
contínua, opistótono, ataxia, rigidez extensora, nistagmo e convulsões. Outros
efeitos adversos apresentados pelos animais incluem salivação trasitória,
diarreia, dispneia, lacrimejamento, depressão e vômitos. Também podem
apresentar dor no local de aplicação. Para evitar efeitos colinérgicos
indesejados, recomenda-se o uso do sulfato de atropina na dosagem de 0,04
mg/kg, dez minutos antes da aplicação do imidocarb.
CRIPTOSPORIDIOSE
Cryptosporidium é um coccicídio que infecta
uma ampla variedade de vertebrados, incluindo o homem. O parasito se localiza
principalmente no intestino delgado dos mamíferos e aves. Em cães infectados
naturalmente, foram isolados oocistos de C.parvum e C.canis, sendo o C. muris
encontrado em cães infectados experimentalmente. Dessas três espécies
acredita-se que o C. canis seja a única clinicamente significante para cães.
É
considerado um parasito oportunista; em hospedeiros imunocompetentes a infecção
é auto-limitante, com duração de poucos dias a três semanas. Em hospedeiros
imunocomprometidos a infecção pode resultar em diarreia crônica debilitante,
desidratação, má-absorção, enfraquecimento progressivo e morte. No entanto, em
indivíduos muito novos ou velhos ou em tratamento que possa causar
imunossupressão são os mais severamente afetados. Estes animais frequentemente
precisam de tratamento para eliminar o parasito.
Fármacos
como a azitromicina, tilosina, paromomicina e nitazoxanida têm sido utilizados
em cães com criptosporidiose, mas o número de estudos publicados ainda é
reduzido o que não permite obter protocolos seguros e consistentes, devendo o
tratamento ser ajustado de acordo com as necessidades de cada paciente. A
paromicina não deve ser administrada a animais com diarreia devido a
possibilidade de ocorrer absorção com consequente nefrotoxicidade.
Protocolos para o tratamento de infecções por Cryptosporidium
no cão.
Fármaco
|
Protocolo
|
Azitromicina
|
10mg/kg,
PO, SID, até resolução dos sinais clínicos.
|
Nitazoxanida
|
25
mg/kg, PO, durante pelo menos 7 dias.
|
Paromomicina
|
125 a
165 mg/kg, PO, SID ou BID durante pelo menos 5 dias.
|
Tilosina
|
10 a 15
mg/kg, PO, BID ou TID, durante 21 dias.
|
Fonte: Scorza e
Tangtrongsup, 2010
REFERÊNCIAS
MELO, F. L.; LEBRE, C. R. Rastreio de
parasitas gastrintestinais e seu impacto zoonótico em cães de canil da cidade
de Lisboa. Universidade Técnica de Lisboa. Lisboa. 2011
PIMENTEL, F. F.; ALMEIDA, A. J. de;
OLIVEIRA, F. C. R. de; EDERLI, B. B. Efeito do tratamento com nitazoxanida na
criptosporidiose canina. Arq. Ciênc. Vet. Zool. UNIPAR, Umuarama, v. 14, n. 2,
p. 107-112, jul./dez. 2011.
GARDINER, C.H.;
FAYER, R.; DUBEY, J.P. An Atlas of Protozoan Parasites in Animal Tissues. Ed.
2. Armed Forces Institute of Pathology, Washington, 1998
FIGUEIREDO, M.R.
Babesiose e erliquiose caninas. Rio de Janeiro, 2007
CORREA, A.R. et al. Babesiose canina:
relato de caso. Revista científica eletrônica de medicina veterinária. Ed. 4,
2005
ANTONIO, N.S.; OLIVEIRA, A.C.; ZAPPA, V.;
Babesia canis: relato de caso. Revista eletrônica de medicina veterinária. São
Paulo. Ed.12, 2009
ANDRADE, E.S.; Infecções causadas por
hematozoários em cães e gatos de ocorrência no Brasil: semelhanças e
particularidades. Porto Alegre, 2007.
SPINOSA, H.S.; GÓRNIAK, S.L.;BERNARDI,
M.M.; Farmacologia Aplicada à Medicina Veterinária. São Paulo: Editora
Guanabara Koogan, p. 502-503, 2002.
GIARDÍASE
A giardíase é uma infecção comum em
animais, sendo causada por um protozoário flagelado do gênero Giardia, pertencente à ordem Diplomonadida (URQUHART et al., 1987). Os animais eliminam os cistos de
parasitas nas fezes após um período de pré-patência de uma a duas semanas,
neste período estes podem apresentar ou não sinais clínicos da enfermidade
(VIGNARD-ROSEZ; ALVES;BLEICH, 2006).
Giardia spp.., em sua forma parasitária, o trofozoíta, se prende às células
epiteliais do intestino delgado, causando-lhes lesões. Em animais jovens,
sobretudo cães, altas infestações podem causar enterites, com episódios
intercalados de parada do trânsito intestinal (constipação) e diarreias.
Dos protozoários que freqüentemente
acometem os animais e o homem, Giardia
spp. tem despertado grande interesse, pelo seu potencial como agente de
zoonose, além de causar, em animais jovens, diarreia intermitente com
comprometimento da digestão e absorção de alimentos, acarretando desidratação,
perda de peso e morte. Os sinais clínicos podem ser autolimitantes em alguns
pacientes e a doença grave ocorre em filhotes e em animais com doenças
concomitantes ou debilitados (ROBERTS-HOMSON et al., 1976; ADAM, 1991).
Tratamento:
- Metronidazol
Esse
medicamento, após entrar na célula-alvo (trofozoíto), interage com o DNA do
protozoário, ocasionando perda de sua estrutura helicoidal e quebra das alças
dessa estrutura. Pelo fato de ser pouco solúvel em água e etanol, recomenda-se
sua administração por via oral. Parte deste medicamento é biotransformada e
aproximadamente 50% são excretados inalterados na urina. É empregado na dose de
25 mg/kg duas vezes ao dia por cinco dias, em cães; e para gatos a dose é de
12-25mg/kg duas vezes ao dia, por 5 dias. Cães tratados com altas doses deste
medicamento, tendem a apresentar sinais de intoxicação com consequente
disfunção do sistema nervoso central, sendo representados por ataxia, tremores,
nistagmo vertical, opistótono, espasmos de musculatura lombar e dos membros
posteriores e cauda caída.
- Cloridrato de Quinacrina ou cloridrato de
mepacrina
É
administrado, geralmente, por via oral ou, com menor frequência, pela via
intramuscular. Distribui-se nos tecidos, com tendência de se acumular no
fígado, baço, pulmões e glândulas adrenais. Sua eliminação faz-se lentamente
pela urina e quantidades muito pequenas são eliminadas pelas secreções
corpóreas (bile, saliva, suor, leite).
Recomenda-se
para animais de grande porte a dose de 200mg/animal, três vezes no primeiro dia
e duas vezes nos cinco dias subsequentes. Para cães de raças pequenas é
recomendado a dose de 100 mg, duas vezes no primeiro dia e uma vez ao dia por
mais 5 dias. Para filhotes, utilizam-se 50 mg duas vezes ao dia, durante cinco
dias. Sugere-se administração de bicarbonato para prevenir vômitos. Para cães
com fibrilação auricular, a dose de 2,64 mg/kg, pela via intravenosa, permite
reestabelecer o ritmo sinusal normal.
Doses
a cima do recomendado podem originar um quadro toxico, representado por vômitos
e distúrbios das atividades motora e psicomotora tanto em cães como em gatos.
- Tinidazol
Fármaco
da mesma classe que o metronidazol (classe dos nitroimidazois), sendo
recomendado na dose de 44 mg ao dia, durante 3 dias.
- Anti-helminticos
Outros fármacos utilizados para o
tratamento da giardíase são os anti-helmínticos, sendo os mais utlizados os
benzimidazóis. Indica-se albendazol na
dose de 25 mg/kg, duas vezes ao dia, durante 2 dias, suspeita-se que tenha
efeito teratogênico, não sendo recomendado para fêmeas prenhes. Já fembendazol,
é indicado na dose de 50mg/kg/dia, durante 3 dias (não foi testado em gatos).
- Furazolidona
Essa
droga sofre uma ativação reduzida no trofozoíto, que é pouco provável ao
metronidazol, essa redução provavelmente ocorre via uma NADH oxidase (38, 244).
Seu efeito de morte está relacionado com a toxicidade dos produtos reduzidos,
os quais podem danificar importantes componentes celulares, incluindo o DNA. A
droga é prontamente absorvida pelo trato gastrointestinal e é metabolizada
rapidamente nos tecidos. (referencia 143).
Estudos
clínicos usando furazolidona são numerosos e tem como resultado uma ampla gama
de doses e horários administrações. Entretanto, sua eficácia tem sido
geralmente considerada como sendo ligeiramente menor do que os de metronidazol
e quinacrina. Outro fator importante é o efeito inibitório de uma monoamina
oxidase (MAO) que a drogra possui, sendo assim, nunca deve ser administrada
concomitantemente a indivíduos já a tomar inibidores da MAO. (artigo do
tratamento da giárdia em inglês).
REFERÊNCIAS
ADAM, R. D. The biology of Giardia spp. Microbiological Reviews,
Washington, v.55, n.1, p.706–732, 1991.
Brown, D. M., J. A. Upcroft, and P. Upcroft. 1996. A H2O-producing NADH
oxidase from the protozoan parasite Giardia duodenalis. Eur. J. Biochem.
241:155–161.
Gardner, T. B., & Hill, D. R. (2001).
Treatment of giardiasis. Clinical
Microbiology Reviews, 14(1),
114-128.
Kucers, A., S. M. Crowe, M. L. Grayson, and J. F. Hoy. 1997.
Nitrofurans: nitrofurazone, furazolidone and nitro furantoin, p. 922-923. In A.
Kucers, S. M. Crowe, M. L. Grayson, and J. F. Hoy (ed.), The use of
antibiotics. A clinical review of antibacterial, antifungal, and antiviral
drugs, 5th ed. Butterworth-Heinemann,
Oxford, United Kingdom.
da Silva, A. S., da Silva,
M. K., Oliveira, C. B., Zanette, R. A., & Monteiro, S. G. (2008). Eficácia
de drogas contra Giardia muris em camundongos Mus musculus naturalmente infectados. Semina: Ciências
Agrárias, 29(1), 175-178
ROBERTS-THOMSON, J. C.; STEVENS, D. P.; MAHMOUD, A. A. F.; WARREN, K. S.
Giardiasis in the mouse: an animal model. Gastroenterology, Philadelphia, v.71,
n.1, p.57-61, 1976.
Upcroft, J., and P. Upcroft. 1998. My favorite cell: Giardia. Bioessays
20:256–263.
URQUHART, G. M.; ARMAUR, J.; DUNCAN, J. L.; DUN, A. M.; JENNINGS, F. W.
Veterinary parasitology. NewYork: Longman, 1987.
VIGNARD-ROSEZ, K. S. F. V.; ALVES, F. A. R.; BLEICH, I. M. Giardiase. 2006. Disponível em:
<http://www.cepav.com.br/textos/t_giardia.htm>. Acesso em: 11 maio 2014
.
Estou precisando de ajuda para tentar solucionar problemas em meus cães com diagnóstico de isospora
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