terça-feira, 6 de maio de 2014

Fármacos Antinematódeos

Compostos Organofosforados
            A introdução dos compostos organofosforados ocorreu na década de 1950, quando o seu emprego se restringia à função de ectoparasiticida. Posteriormente, os organofosforados passaram a ser empregados também como anti-helmínticos. Devido à sua toxicidade, outros fármacos têm sido utilizados no tratamento das helmintoses. Além disso, a eficácia não é de amplo espectro. Dentre os organofosforados, apenas o diclorvos é utilizado no tratamento de cães e gatos.
Modo de ação: O principal mecanismo de ação dos organofosforados sobre os parasitas nematoides consiste na inibição da enzima acetilcolinesterase (AChE), reduzindo a hidrólise da acetilcolina (ACh) e promovendo o acúmulo desse neurotransmissor no local em que é liberado. Esses fármacos produzem a fosforilação do grupo hidroxila da serina presente no sítio esterásico da enzima. O acúmulo de ACh na transmissão neuromuscular promove estimulação excessiva com consequente paralisia espástica e morte do parasita.
            As acetilcolinesterases do hospedeiro e dos diversos parasitas apresentam variação quanto a sua susceptibilidade aos organofosforados, ou seja, um fármaco pode ser capaz de inibir a AChE do parasita, não afetando de maneira significativa a mesma enzima do hospedeiro. Esse fato determina a segurança relativa de um fármaco ao paciente.
Segurança e Toxicidade: O uso de organofosforados deve ser acompanhado de determinadas precauções. Não se deve tratar simultaneamente o animal com outros fármacos inibidores da AChE, pesticidas, inseticidas organofosforados ou carbamatos, relaxantes musculares ou determinados sedativos (p. ex., acepromazina). Caso seja indicado o uso concomitante de inseticidas tópicos, deve-se optar por piretrinas, piretroides ou hidrocarbonetos clorados.
            De modo geral, a margem de segurança dos anti-helmínticos organosfosforados é menor em comparação a outros fármacos de amplo espectro (lactonas macrocíclicas e imidazotiazois), devendo ser dada maior atenção a dosagem e ao risco de intoxicação.
Diclorvos
Nome químico: 0,0-dimetil-0-(2-2-diclorvinil)-fosfato
            O diclorvos é um fármaco bastante volátil e de rápida degradação no trato gastrointestinal superior. Por esse motivo, são utilizadas formulações que incorporam o anti-helmíntico a pellets de resina de polivinil indigeríveis que liberam o fármaco ao longo do trato digestivo. Esse tipo de formulação também confere um maior fator segurança ao paciente, pois promove uma detoxificação gradual do fármaco.
            A principal vantagem do diclorvos em relação a outros anti-helmínticos utilizado nos cães é a sua eficácia contra Trichuris vulpis.

                                       
Imidazotiazois
            A comercialização dos imidazotiazois teve início na década de 1960, e o tetramisole foi o primeiro princípio ativo desse grupo de medicamentos introduzido no mercado. O tetramizol consiste em uma mistura racêmica de dois isômeros ópticos (l- tetramizol e d- tetramizol). Verificou-se, mais tarde, que a atividade anti-helmíntica da mistura era atribuível quase que exclusivamente ao isômero levógiro, o levamisole. Assim, ao separar da mistura e utilizar apenas o isômero l, pode-se reduzir a dosagem, aumentando a margem de segurança do medicamento.
Modo de ação: os imidazotiazois tratam-se de agonistas colinérgicos, ou seja, ligam-se aos receptores para acetilcolina e promovem sua ativação. Esses fármacos atravessam a cutícula do parasita e atuam como estimulantes ganglionares (colinomiméticos). O estímulo é considerado reversível. Uma vez estando os receptores para acetilcolina ocupados pelo fármaco, ocorre acúmulo do neurotransmissor na fenda sináptica, levando a uma despolarização excessiva da membrana pós-sináptica. Assim, observa-se hiperexcitabilidade e paralisia espástica do parasita.  
Levamisole
Nome químico: 2,3,5,6-tetraidro-6-fenilimidazo{2,1-b}tiazol
Espectro anti-helmíntico: em cães, o levamisole é empregado como microfilaricida nos casos de dirofilariose, uma helmintose causada pelo nematódeo Dirofilaria immitis.
            Além de sua atividade anti-helmíntica, o levamisole é capaz de estimular a resposta imune celular do hospedeiro, associada à velocidade de diferenciação de linfócitos T. Promove aumento na expressão de receptores para antígeno nos linfócitos T e na capacidade fagocitária de neutrófilos e monócitos.
Farmacocinética: na dirofilariose, a via de administração do levamisole é oral e a sua absorção pelo trato gastrointestinal é rápida. O nível plasmático máximo é atingindo em um período de duas a três horas. O fármaco apresenta uma ampla distribuição pelos tecidos e, no fígado, onde ocorre sua biotransformação, atinge altas concentrações. A meia-vida plasmática é de seis a oito horas e, em 24 horas, ocorre eliminação de 90% da dose administrada.
Efeitos tóxicos: o levamisole é considerado um fármaco relativamente tóxico para cães. Os sinais de intoxicação pelo levamisole são salivação, defecação por aceleração da motilidade do trato gastrointestinal e angústia respiratória por contração da musculara lisa brônquica. São sintomas tipicamente relacionados à atividade colinérgica, semelhantes ao que ocorrem na intoxicação por organofosforados. A manifestação da intoxicação ocorre de 10 a 20 minutos após a administração do medicamento e pode persistir por até seis horas. Não apresenta efeitos teratogênicos ou embriotóxicos. Agonistas colinérgicos, como organofosforados e carbamatos não devem ser administrados concomitantemente.



Lactonas macrocíclicas
            A utilização das lactonas macrocíclicas como anti-helmínticos teve início a partir da década de 1980. São produtos da fermentação ou derivados de fungos habitantes do solo, do gênero Streptomyces. As lactonas macrocíclicas, além de possuírem atividade de amplo espectro, são eficazes em concentrações muito baixas.
            As avermectinas e as milbemicinas representam os dois principais grupos das lactonas macrocíclicas. As avermectinas são produtos da fermentação do Streptomyces avermitilis. As milbemicinas, por sua vez, são produtos da fermentação de duas espécies de fungos; a moxidectina deriva do produto de fermentação do Streptomyces cyaneogriseus subespécie noncyanogenus; já a milbemicima oxima é um produto, semi-sintético, originado do Streptomyces hygroscopicus subspécie aureolacrimosus.
Modo de ação: supõe-se que a absorção transcuticular seja o mecanismo de penetração mais importante nos nematódeos gastrointestinais. Porém, nos parasitas hematófagos (nematódeos e artrópodes), a via oral também é significativa. Atualmente, aceita-se que as lactonas macrocíclicas agem sobre o parasita através da ligação de alta afinidade com a subunidade α de canais iônicos seletivos para cloro. Nos invertebrados, o glutamato é o neurotransmissor ligante desses canais, sendo os receptores denominados GluCl. As lactonas macrociclicas, quando ligadas ao canal, promovem a sua abertura e o consequente influxo do íon cloro na célula. O influxo de cloro hiperpolariza a membrana neuronal do parasita, prevenindo o inicio ou a propagação de potenciais de ação. Nos nematódeos, essa interferência na transmissão nervosa ocorre entre células neuronais.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                              
Farmacocinética: as avermectinas e as milbemicinas são compostos lipofílicos com baixa solubilidade em água. Podem ser dissolvidos em vários solventes orgânicos como acetona, dimetil sulfóxido, clorofórmio, dimetilformamina e ciclo-hexano. As lactonas macrocíclicas ligam-se a lipoproteínas do plasma para a sua distribuição no organismo animal. As concentrações nos fluidos orgânicos são mantidas por longos períodos e a sua excreção ocorre em maior parte pelas fezes (como fármaco ativo) e, em menor extensão, na urina (cerca de 2%) e no leite.
Efeitos tóxicos: as lactonas macrocíclicas apresentam grande margem de segurança na maioria dos mamíferos, devido ao fato de que nesses animais o GABA ocorre como neurotransmissor apenas no SNC e tais fármacos não atravessam de maneira imediata a barreira hematoencefálica dos mamíferos. Por outro lado, superdosagem pode acarretar manifestação de toxicidade. Cães da raça Collie, Shetland Sheepdogs, Old English Sheepdog e Australian Sheepdog podem eventualmente apresentar sensibilidade a alguns anti-helmínticos com lactonas macrocíclicas como ivermectina e milbemicina. Nessas raças, os sinais de intoxicação seriam convulsão, depressão, tremores, ataxia, vômitos, letargia, salivação e midríase, podendo acarretar em morte do animal. Nos gatos, podem ocorrer distúrbios neurológicos.
Avermectinas
Ivermectina
Nome químico: 22,23-diidroavermectina B1a (> 80%) e
22,23-diidroavermectina B1b (< 20%)
Espectro anti-helmíntico: A ivermectina apresenta atividade sobre microfilárias de Dirofilaria immitis em cães, sendo administrada por via oral. Quantidades extremamente pequenas de ivermectina (menos de 1mg/kg) são suficientes para se obter ação microfilaricida.
Farmacocinética: a farmacocinética da ivermectina é dose-dependente, ou seja, as concentrações plasmáticas aumentam linearmente com a elevação da dose. O fármaco é biotransformado no fígado e produz três diferentes metabólitos. A meia-vida de eliminação no cão é de 1,8 dia.


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