Os parasitos externos ocupam
lugar de destaque entre as parasitoses dos animais domésticos. Estes
ectoparasitos podem ser controlados com o uso de substâncias genericamente
chamadas de praguicidas ou defensivos agrícolas. Estes termos são usados em
agropecuária referindo-se às substâncias químicas capazes de destruir as pragas
e recebem denominações específicas conforme seu emprego: inseticidas,
carrapaticidas, pulicidas, piolhicidas, moluscicidas, etc.
Nos carnívoros domésticos,
como cães e gatos, o maior desafio recai sobre o controle das pulgas, em que
predominam o Ctenocephalides felis e C. canis, e das sarnas demodécica,
causada pelo Demodex spp., e
sarcóptica, provocada por Sarcoptes
spp.
Devido ao alto custo de
desenvolvimento de novos produtos, bases inseridas há décadas no mercado
predominam até hoje quase absolutas. Em revisão criteriosa a respeito do
lançamento de novas moléculas que atuam em ectoparasitos, constatou-se que
poucas foram acrescidas à farmacopeia veterinária nesses últimos anos. Para a
linha de produtos de atuação em pequenos animais, destaca-se a metaflumizona,
inserida no mercado no ano de 2007.
Deve-se fazer uma correta
orientação ao criador ou proprietário do animal quanto ao uso destes
defensivos, pois a maioria não lê as bulas, e assim a propaganda comercial pode
induzi-los à utilização errônea do produto, contribuindo, desta forma, para que
haja um recrudescimento da resistência dos parasitos frente às moléculas. A
subdosagem e a pressão de seleção, ou seja, a intensificação de aplicações dos
antiparasitários, têm sido os principais fatores associados ao surgimento de
cepas resistentes.
O aparecimento de
resistência, portanto, é consequência do mau uso das formulação. Para evitá-lo,
o usuário deve ter alguns cuidados básicos antes do manuseio destes agentes. O
principal deles é a leitura criteriosa das recomendações sugeridas pelo
fabricante antes da aplicação do produto, que é a fonte primária de informações
atualizadas, pois o fabricante tem interesse em mostrar a eficiência e
segurança do produto. Outra medida seria solicitar a orientação de um
profissional da área, o médico veterinário, para adequar medidas de controle
tático ou estratégico nos canis, gatis, ou casas dos proprietários, com a
finalidade de elaborar um esquema que diminua a frequência de tratamentos
associado ao manejo adequado dos animais. Esse profissional é capacitado para
indicar o produto e a sua utilização correta.
A seguir, estão indicados os
diferentes princípios ativos e suas associações.
ORGANOFOSFORADOS
Definição:
São compostos orgânicos, derivados do ácido fosfórico. Os organofosforados são
apresentados em formulações isoladas, apenas uma base, ou em associações com
outras bases, particularmente com os piretroides.
Nomes
genéricos dos ectoparasiticidas organofosforados: Coumafós,
Diazinom e Fentiom.
Utilização: o
Coumafós, quando em formulação isolada, é indicado para combater artrópodes em
cães; o diazinom, por sua vez, é recomendado no controle das miíases dos
animais, sendo usado sob a forma de xampu e coleira contra pulgas em cães e
gatos; e o fentiom para cães e gatos, em duas diferentes concentrações, é
recomendado para o controle de pulgas.
Modo
de ação: os organofosforados se ligam “irreversivelmente” ao
local esterásico da enzima colinesterase, responsável pela hidrólise da
molécula de acetilcolina. Este processo resulta no acúmulo de acetilcolina nos
locais onde este neurotransmissor é liberado, promovendo hiperexcitabilidade e
hiperatividade, seguindo-se de incoordenação muscular, convulsões e morte do
parasito.
Características
farmacocinéticas: os organofosforados são absorvidos no trato
intestinal, porém possuem um grau de instabilidade variável em meio alcalino,
de modo que podem ser parcialmente hidrolisados nas áreas alcalinas do
intestino delgado. Esses medicamentos são lipossolúveis, sendo facilmente
absorvidos através da pele. Os organofosforados são rapidamente oxidados e
inativados no fígado, sendo eliminados principalmente na urina.
Efeitos
tóxicos: o índice de segurança é geralmente pequeno e, por este
motivo, maior atenção deve ser dada ao uso correto da dose. Os principais
efeitos tóxicos nos animais são letargia, anorexia, diarreia, polaciúria,
vômitos, salivação e tremores musculares, estando relacionados com atividade
prolongada da acetilcolina junto aos seus receptores muscarínicos e
nicotínicos. O sulfato de atropina reduz parcialmente estes efeitos tóxicos,
pois atua apenas como antagonista de receptores muscarínicos.
CARBAMATOS
Definição:
são
compostos derivados do ácido carbâmico, mais particularmente do ácido
N-metilcarbâmico.
Nomes
genéricos dos ectoparasiticidas carbamatos: carbarila e
propoxur.
Utilização:
carbarila e propoxur, utilizados isoladamente ou em associações, são indicados
no combate de artrópodes em geral.
Modo
de ação: os carbamatos são inibidores reversíveis da
colinesterase, enquanto os organofosforados são “irreversíveis”. Os artrópodes
expostos a esses agentes exibem hiperatividade, ataxia, convulsões e paralisia,
seguida de morte.
Farmacocinética: os
carbamatos em formulações para uso tópico são pouco absorvidos pela pele. Nos
mamíferos, essas substâncias são biotransformadas no fígado e por esterases
plasmáticas, sendo excretadas na urina.
Efeitos
tóxicos: como são inibidores reversíveis da colinesterase, os
efeitos dos carbamatos, de modo geral, têm menor duração e intensidade quando
comparados aos dos organofosforados. O tratamento dos animais intoxicados deve
ser feito exclusivamente com atropina, não devendo ser utilizados os
reativadores das colinesterases, isto é, as oximas, como o Contrathion® (mesilato
de pralidoxima). Isto porque os carbamatos se ligam a ambos os locais ativos da
colinesterase (esterásico e aniônico), impedindo que as oximas reativem a
enzima, como ocorre com os organofosforados. A forma mais comum de intoxicação,
além do uso incorreto e a ingestão acidental, deve-se ao hábito dos animais de
se lamberem após a aplicação do produto.
PIRETROIDES
Definição:
são,
em sua maioria, derivados do ácido ciclopropanocarboxílico, com algumas
exceções, como o fenvalerato, por exemplo. São ésteres solúveis na maioria dos
solventes orgânicos, são biodegradáveis têm a vantagem de serem estáveis quando
expostos ao ar e à luz, diferentemente das piretrinas.
Nomes
genéricos das piretrinas e piretroides: piretrina I, piretrina II,
cialotrina, ciflutrina, cipermetrina, deltametrina ou decametrina, flumetrina e
permetrina. Os piretroides que não têm o grupamento α-ciano são classificados
como do tipo I (piretrina I, aletrina, tetrametrina, permetrina, resmetrina e
fenotrina) e são utilizados comumente como inseticidas em ambientes domésticos,
sob a forma de spray, e aqueles que
têm são chamados do tipo II (cipermetrina, deltametrina, cifenotrina,
fenvalerato, flumetrina e cialotrina), indicados como ectoparasiticidas para
uso animal. Esta distinção é importante, pois, em caso de exposição tóxica, os
sintomas observados entre os dois grupos diferem, devido a diferentes
mecanismos de ação.
Utilização:
os
piretroides são utilizados, de modo geral, no combate a artrópodes. São
apresentados em formulações isoladas ou em associações com outros agentes,
particularmente com os organofosforados. Estas associações têm por finalidade
aumentar o espectro de ação, visando principalmente à ação sobre os bernes, uma
vez que os piretroides não são efetivos contra estes.
O uso dessas moléculas incorporadas
a xampus, particularmente pelo seu rápido efeito de knock-down (“queda”) em pulgas, tem aumentado consideravelmente em
pequenos animais.
Devido à resistência paralela e
cruzada que vem sendo desenvolvida pelos parasitos aos piretroides, a eficácia
destem tem variado bastante entre diferentes regiões geográficas e até dentro
da mesma região. Hoje, poucos piretroides apresentam eficácia igual ou superior
a 95%, índice exigido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(MAPA) para sua aprovação como acaricida comercial.
Modo
de ação: os piretroides têm propriedades lipofílicas que facilitam
sua penetração nos artrópodes através de sua cutícula rica em lipídios. Uma vez
absorvidos, os piretroides são levados pela hemolinfa para as células nervosas.
O local de ação destes agentes é o canal de sódio destas células, aumentando a
condutância deste íon. Os piretroides do tipo I prolongam o influxo de sódio e
reduzem tanto o pico da corrente de sódio como o efluxo de potássio no estado
de equilíbrio, provocando inquietação, incoordenação, fraqueza e paralisia. Os
piretroides do tipo II causam despolarização da membrana nervosa sem descargas
repetitivas e reduzem a amplitude do potencial de ação. Também se admite que
essa classe atue como agonista em receptores colinérgicos nicotínicos e como
antagonista nos do ácido γ-aminobutírico (GABA). Também foram descritas ações
dos piretroides promovendo inibição de Ca²+, Mg²+-ATPase
e sobre a calmodulina, responsável pela ligação intracelular dos íons de
cálcio. Os insetos expostos a estes praguicidas apresentam hiperatividade,
incoordenação e dificuldade de movimentos associada a hipersecreção, tremores,
convulsão e, finalmente, o knock-down (“queda”),
podendo ou não morrer.
Farmacocinética:
os
piretroides são pouco absorvidos pela pele, ocorrendo maior absorção pelas
mucosas, particularmente dos tratos digestório e respiratório. Uma das
principais vias de biotransformação é a hidrólise da molécula por
carboxilesterases e oxidases da fração microssomal dos tecidos. A conjugação
com sulfatos, glicuronídios, taurina, glicina e outras substâncias, no fígado,
faz parte deste processo, que é semelhante em diversas espécies animais. As
principais vias de eliminação são a fecal e a renal. Resíduos de piretroides e
de seus metabólitos podem ser encontrados no leite semanas após a aplicação
tópica.
Efeitos
tóxicos: a toxicidade dos piretroides é bastante baixa quando
comparada a outros ectoparasiticidas. Seu efeito tóxico é sobre o sistema
nervoso, sendo dependente das propriedades físico-químicas de cada agente, da
dose e do intervalo de tempo entre as aplicações.
A atividade
inseticida dos piretroides pode ser aumentada com a adição de algumas
substâncias que, embora não tenham ação inseticida, competem com os piretroides
pela mesma via metabólica, potencializando os efeitos tóxicos deste sobre os
mamíferos. Os sinergistas mais comumente usados em formulações de piretroides
são o butóxido de piperonila, o N-octil-diciclohepteno-dicarboximida (MGK 264),
o sulfóxido, o sesomim e o sesomolim. Da mesma forma, os efeitos dos
piretroides aumentam quando associados a organofosforados e carbamatos, devido
à inibição de esterases causada por estes últimos.
Animais que recebem doses tóxicas
agudas de piretroides do tipo I produzem a síndrome “T”, caracterizada por
hiperexcitação, agressividade, tremores, fraqueza e resposta de sobressalto,
enquanto os piretroides do tipo II produzem a síndrome “CS”, cujos sinais
clínicos são: coreoatetose, salivação profunda, movimento de pedalar,
convulsões clônicas, incoordenação e desorientação. Estes sintomas podem
aparecer poucas horas após a exposição a essas substâncias.
O tratamento inicial consiste em
evitar maior absorção do piretroide, recomendando-se banho com água acrescida
de detergente neutro. Os sintomas de excitação podem ser controlados com
benzodiazepínicos (como Valium®) ou barbitúricos, no caso de convulsão. Carvão
ativado, associado a um catártico osmótico, como o sulfato de sódio ou de
magnésio, auxilia na inativação e remoção do piretroide do aparelho digestório.
FORMAMIDINAS
Definição:
é
um composto formamidínico.
Nomes
genéricos: clordimeform e amitraz. O amitraz representa
o princípio ativo ais utilizado entre as formamidinas, inclusive no Brasil, por
ser o único aprovado para uso animal.
Utilização: o
amitraz possui uma excelente ação sobre artrópodes, de maneira geral. É
utilizado como carrapaticida, pulicida, piolhicida e sarnicida. O amitraz
mostra-se um dos mais efetivos carrapaticidas do momento.
Modo
de ação: ainda não foi totalmente esclarecido. Observou-se que,
em larvas de carrapato, o amitraz penetra rapidamente, podendo atuar sob a
forma original ou de seu metabólito ativo inibindo a monoaminoxidase (MAO).
Esta enzima mitocondrial tem ação catalisadora no processo de desaminação de
catecolaminas, resultando no aumento dos níveis de norepinefrina e serotonina
no sistema nervoso central. Há evidências também de sua ação direta em canais
de sódio da membrana nervosa e ação inibidora sobre a síntese das
prostaglandinas. Ainda, como seu efeito agonista em receptores α2-adrenérgicos,
tem sido estudado e confirmado por meio do uso de antagonistas α2-adrenérgicos,
tanto em cães quanto em gatos que receberam amitraz via intravenosa.
Nas
teleóginas, as formamidinas inibem o processo de liberação de ovos, por impedir
a contração de sua musculatura genital.
Farmacocinética/farmacodinâmica: por
via oral, o amitraz é rapidamente hidrolisado no estômago, em consequência da
sua instabilidade em meio ácido, por se tratar de uma base fraca. A sua
biotransformação ocorre no fígado, sendo os seus metabílitos excretados por
vias renais e biliares. A absorção pela pele é tanto maior quanto maior for o
grau de lesão e inflamação desta, embora seja absorvido, em menor quantidade,
também pela pele íntegra.
Efeitos
tóxicos: O amitraz, em comparação com os organofosforados e os
carbamatos, é considerado pouco tóxico. É muito instável em meio ácido. Os
subprodutos de sua hidrólise são bem mais tóxicos, razão pela qual a aplicação
deve ser feita imediatamente após a sua preparação. Os solventes orgânicos nos
quais o produto é diluído também podem contribuir para a maior absorção do
produto e, consequentemente, maiores efeitos tóxicos. Torna-se muito tóxico
quando misturado em óleos vegetais, para formulações pour-on, particularmente as “caseiras”. Recentemente, pesquisas têm
sido elaboradas com o objetivo de abolir este efeito tóxico.
Os
principais sinais clínicos nos animais intoxicados, particularmente no cão, são
ataxia, incoordenação, sonolência, depressão, bradicardia, hipotermia,
midríase, êmese e diarreia. Eritema, hemorragia nas patas e prurido também
podem ocorrer após a aplicação do amitraz, sendo este último decorrente dos
parasitos mortos na pele. A ocorrência de hiperglicemia após sua aplicação em
cães se deve à interferência na liberação de insulina pelas ilhotas de
Langerhans, sendo por isso contraindicado seu uso naqueles portadores de
diabetes melito.
O
tratamento da intoxicação deve ser sintomático e concomitante com as medidas de
remoção do amitraz do organismo animal. Além desses cuidados, recomenda-se,
para reversão rápida do quadro tóxico, o uso de antagonistas α2-adrenérgicos
tais como ioimbina (Yobine®), na concentração de 2 mg/ml e dose de 0,1 mg/kg,
ou do atipamezol (Antisedan®), na concentração de 5 mg/ml e dose de 0,2 mg/kg,
ambos por via intravenosa.
LACTONAS
MACROCÍCLICAS
Neste grupo, encontram-se as avermectinas e
milbemicinas. Recentemente, foram lançados no mercado as espinosinas e os
espinosoides, que não serão descritos a seguir por serem utilizados
principalmente em bovinos, e não em cães e gatos.
ü AVERMECTINAS E MILBEMICINAS
Denominam-se
endectocidas devido a seu amplo espectro de ação, isto é, combatem tanto os
endoparasitos como os ectoparasitos, constituindo-se na última geração de praguicidas.
Nomes
genéricos: as avermectinas utilizadas como ectoparasiticidas são a
ivermectina, abamectina e doramectina; dentre as milbemicinas têm-se a
milbemicina e a moxidectina. A selamectina, para cães e gatos, faz parte da
recente geração dessa classe. No intuito de aproveitamento da excelente
eficácia das avermectinas, associações visando ampliar seu espectro de ação
como ectoparasiticida já são aprovadas oficialmente pela União Europeia, como,
por exemplo, moxidectina e imidaclopride.
Utilização:
embora estas moléculas sejam oriundas de substratos semelhantes, da fermentação
do fungo do Streptomyces spp., os
produtos ou as misturas das frações obtidas desta fermentação mostram algumas
diferenças em sua eficácia, quando testadas nas diversas espécies de endo- ou
ectoparasitos.
Modo
de ação: propõe-se que as lactonas macrocíclicas potencializem a
ação inibidora neuronal mediada pelo GABA, promovendo hiperpolarização do
neurônio e, portanto, inibindo a transmissão nervosa. Este mecanismo de ação
seria efetivo em mamíferos; entretanto, foi demonstrado que, em insetos, existe
também a ação desses compostos em canais de cloro GABA independentes, em que há
aumento na condutância da membrana do músculo, pelo bloqueio, para a resposta
do ácido ibotênico, que é um ativador específico do portão-glutamato, comumente
encontrado no inseto. Como consequência, há um aumento da permeabilidade da
membrana aos íons cloro, resultando em redução da resistência da membrana
celular. Desta forma, essas moléculas
provocam ataxia e paralisia nos insetos e nematódeos, enquanto mamíferos
intoxicados exibem depressões neurológica e respiratória, incoordenação e
tremores, evoluindo para ataxia e coma. As raças de cães mais sensíveis a
intoxicação por esses agentes, como Collies e Pastor australiano, têm a
glicoproteína-P “incompleta” (proteína responsável pelo efluxo desses agentes
do sistema nervoso central), apresentando assim quadro toxicológico muito
grave, podendo ser muitas vezes fatal.
Farmacocinética:
já
descrita em “Agentes Antinematódeos”.
Efeitos
tóxicos: já descrito em “Agentes Antinematódeos”.
DERIVADOS
DAS CLORONICOTIL NITROGUANIDINAS
ü IMIDACLOPRID
O imidacloprid é uma
molécula com atividade sistêmicae o primeiro composto da classe química das
nitroguanidinas no mercado.
Utilização: é
indicado como pulicida, na dose de 10 mg/kg de peso vivo para carnívoros,
atuando nas espécies C. felis e C. canis, as principais espécies que
acometem estes animais.
Modo
de ação: interfere na transmissão de impulsos no sistema nervoso
dos insetos. Esse agente exerce seu efeito ligando-se aos locais de receptores
nicotínicos no neurônio pós-sináptico. Este mecanismo de ação é semelhante ao
descrito para a acetilcolina, porém o imidacloprid não sofre a ação da
acetilcolinesterase. Como é degradado lentamente, tem uma ação prolongada,
levando o inseto à morte.
Farmacocinética:
esse princípio é rápido e completamente absorvido pelo trato gastrintestinal,
sendo distribuído uniformemente nos órgãos e tecidos. Sua eliminação é muito rápida, sendo 96% da
quantidade administrada nas primeiras 48 h; deste total, 70 a 90% são
eliminados por via urinária e o restante pelas fezes.
Efeitos
tóxicos: para cães, tanto fêmeas como machos, a concentração
tolerada, sem quaisquer danos, foi determinada em 200 mg/kg na dieta, e mesmo a
administração de 500 mg/kg de ingrediente ativo na dieta, por um período
superior a 12 meses, não produziu efeitos colaterais. Em caso de ingestão ou
erros de manipulação, a sintomatologia é similar à causada por intoxicação
nicotínica: apatia, miotomia, dificuldade respiratória, bradicardia, queda de
pressão arterial, tremores e, em casos graves de intoxicação, podem ocorrer
mioespasmos. Por não existir um antídoto específico, o tratamento deve ser
sintomático. Medidas visando à
eliminação ou ao aumento da excreção do ingrediente ativo, como lavagem
gástrica e catárticos salinos, são recomendadas. Respiração artificial é
necessária em caso de parada respiratória.
ü NITEMPIRAM
O nitempiram, uma
nitroenamina, é um pulicida adulticida cuja principal característica é a de
oferecer um rápido knock-down.
Utilização: é indicado como pulicida na dose de 1 mg/kg
de peso vivo ao dia para cães e gatos.
Modo
de ação: atua bloqueando os receptores nicotínicos de
acetilcolina, porém não interfere na acetilcolinesterase. Sua degradação é
muito rápida.
Farmacocinética:
as
concentrações sanguíneas máximas são alcançadas entre 15 minutos e uma hora
após sua ingestão. Mais de 90% do princípio ativo são eliminados pela urina,
dentro de 24 h em cães e 72 h em gatos. As pulgas sofrem os efeitos do produto
30 a 60 minutos após sua administração.
Efeitos
tóxicos: doses diárias cinco vezes superiores à recomendada,
administradas para filhotes de cães e gatos, não produziram intoxicação.
Sintomas adversos, como fezes amolecidas e exacerbação na frequência do ato de
lamber-se, foram observados quando se utilizaram estes níveis de dosagem
duplicados. O tratamento nestes casos deve ser sintomático, por não existir um
antídoto específico. O produto não é recomendado para uso em animais com menos
de 4 semanas.
MISCELÂNEA
DE MEDICAMENTOS ECTOPARASITIDAS
ü INIBIDORES DE QUITINA
A benzoilfenilureia é
um inseticida seletivo que atua pela inibição da deposição da quitina. Os
artrópodes afetados são incapazes de promover a ecdise, perdem hemolinfa,
adquirem coloração escura e morrem devido à desidratação. Dos compostos
inibidores de quitina, uma base disponível no mercado brasileiro para
carnívoros, como cães e gatos, é o
lufenurom, pulicida administrado por via oral.
ü DERIVADOS DOS FENILPIRAZÓIS
O fipronil é uma
molécula recém-introduzida em nosso mercado, sendo um ectoparasiticida indicado
contra Ctenocephalides spp. E Rhipicephalus sanguineus em cães e
gatos. O fipronil inibe não competitivamente o GABA, fixando-se ao receptor no
interior do canal do cloro, inibindo o fluxo celular dos íons, anulando assim o
efeito neurorregulador do GABA e causando a morte do parasito por
hiperexcitação.
ü ANÁLOGOS DO HORMÔNIO JUVENIL
O metoprene é um
análogo sintético do hormônio juvenil que promove a mudança de estágios nos
insetos. A molécula age mimetizando este hormônio regulador do crescimento,
impedindo que os insetos atinjam a maturidade ao interromper o desenvolvimento
larval, resultando em sua morte. Sua segurança baseia-se no fato de que
hospedeiros mamíferos não têm sistemas similares de desenvolvimento que possam
ser afetados por este agente. Outra molécula desse grupo é o piriproxifém.
Comercialmente, o metoprene é oferecido em associação com DDVP + propoxur em
formulação spray, sendo indicado como
larvicida de pulgas.
NOVAS
MOLÉCULAS: SEMICARBAZONAS
Definição: a
metaflumizona, um derivado pirazólico com ação bloqueadora dos canais de sódio
dos insetos, foi lançada para controlar pulgas em gatos e pulgas e carrapatos
em cães. A metaflumizona pertence ao grupo das semicarbazonas, sendo
sintetizada a partir da modificação do anel pirazolina, e apresenta-se
comercialmente em formulações como único princípio ativo ou em associação com o
amitraz.
Nome
genérico das semicarbazonas: metaflumizona.
Utilização: a
metaflumizona é comercializada na forma de spot-on
indicada para controle de pulgas de cães e gatos e para o tratamento da
escabiose canina. Em associação com o amitraz, é indicada no controle do
carrapato Rhipicephalus sanguineus no
cão. Embora não seja indicada pelos fabricantes, a associação metaflumizona/amitraz
demonstrou ser promissora no tratamento da demodicidose canina, inclusive
quando da infecção concomitante por Malassezia
pachydermatis.
Modo
de ação: as semicarbazonas bloqueiam os canais de sódio
voltagem-dependentes, impedindo a passagem do eletrólito através das membranas
das células nervosas. Este processo resulta na falta de impulsos nervosos
promovendo a paralisia e morte dos artrópodes.
Farmacocinética/farmacodinâmica: a
metaflumizona tem baixa absorção, em aplicação tanto oral, quanto tópica, sendo
excretada principalmente por via fecal (acima de 90% da dose) e em pequenas
quantidades via bile e urina.
Efeitos
tóxicos: o agente tem toxicidade, teratogenicidade e
oncogenicidade baixas. Mesmo quando aplicada na dose cinco vezes maior que a
recomendada em sete aplicações tópicas com intervalos quinzenais, a
metaflumizona não ocasionou efeitos colaterais em gatos adultos e jovens. Da
mesma forma, o agente é bem tolerado e não ocasiona efeitos adversos em cães.
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